19 de nov. de 2015

Sesc realiza programa literário inédito que aborda as diferentes formas artísticas da palavra, com instalação, debates e apresentação musical “A Palavra Líquida” reflete sobre a cultura indígena e estreia no dia 25/11 (quarta), no Sesc Nova Iguaçu – projeto vai até março de 2016

A PALAVRA LÍQUIDA

O Sesc estreia “A PALAVRA LÍQUIDA”, um projeto de Literatura, com interface com outras linguagens, que aborda a tendência híbrida da palavra no mundo contemporâneo. Hipertextos, hiperlinks, multimídias, a criação e popularização de novas estratégias narrativas, os diferentes suportes que atuam na confluência e convergência de artes e mídias diversas.

A primeira edição do projeto apresenta o poema-instalação “TOTEM” de André Vallias, que irá itinerar pelo Sesc Nova Iguaçu, Madureira e Niterói, acompanhado por um ciclo de palestras sobre a questão indígena.

“A Palavra Líquida” trabalha a expansão da palavra através da interação com outras linguagens, como as artes visuais e a música. A proposta é trazer trabalhos artísticos com uma reflexão crítica sobre temas sociais relevantes, como a valorização da cultura indígena. A importância de democratizar o acesso às produções artísticas é um dos objetivos do Sesc – explica Ramon Nunes Mello, analista de literatura do Sesc.

Será um evento totalmente gratuito que acontece até março de 2016. A estreia será no dia 25/11 (quarta), no Sesc Nova Iguaçu, com a abertura da instalação TOTEM, de André Vallias.

TOTEM

O poema “TOTEM” foi inspirado por uma campanha de solidariedade ao povo Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, surgida espontaneamente em outubro de 2012, que se alastrou nas redes sociais, levando dezenas de milhares de usuários a adotarem o nome da etnia como sobrenome ou incluir o bordão “sou Guarani Kaiowá” em seus perfis.

“Foi a partir desse bordão – um verso de sete sílabas, que alguns dizem ser o ritmo natural da língua portuguesa – que eu fui encadeando os nomes de outros povos indígenas que ainda vivem no Brasil, observando a métrica do verso e rimando de par em par” explica André Vallias, que além de poeta é designer gráfico e produtor de mídia interativa.

O poema, dividido em 26 estrofes, reuniu os nomes de 222 etnias, sendo composto num alfabeto criado especialmente pelo poeta, inspirado na arte da cestaria indígena. Para “A PALAVRA LÍQUIDA”, o poema recebeu a forma de um totem quadrangular com 70 cm de largura e 2,5 metros de altura, que poderá ser manuseado pelos visitantes, formando novas combinações de estrofes. Integram ainda a instalação um mapa do Brasil com a localização de cada povo indígena mencionado no poema, uma vídeo-animação com a oralização do mesmo, tabelas informativas sobre população e idioma falado, bem como um texto do importante antropólogo Eduardo Viveiros de Castro:

“(…) Os índios não são “nossos índios”. Eles não são “nossos”. Eles são nós. Nós somos eles. Todos nós somos todos eles. Somos outros, como todos. Somos deste outro país, esta terra vasta que se vai devastando, onde ainda ecoam centenas, milhares de gentílicos, etnônimos, nomes de povos, palavras estranhas, gramáticas misteriosas, sons inauditos, sílabas pedregosas mas também ditongos doces, palavras que escondem gentes e línguas de que sequer suspeitávamos os nomes. Nomes que mal sabemos, nomes que nunca ouvimos, mas vamos descobrindo”.

“Viveiros de Castro foi o primeiro leitor do poema”, comenta Vallias, “e me auxiliou quando eu ainda reunia os nomes dos povos indígenas, indicando-me uma listagem confiável, pois fiquei muito confuso com as informações desbaratadas que encontrava na Internet. Depois escreveu um texto muito bonito, no qual criou um neologismo para caracterizar o poema: o adjetivo “onomatotêmico”.

A palavra “totem” vem de “odoodem”, nome que os índios ojibwe, da América do Norte, davam às figuras (animais, plantas ou objetos) que caracterizavam os diversos clãs de uma tribo; por extensão, acabou denominando as enormes esculturas feitas em toras de cedro, em que essas figuras totêmicas eram talhadas uma em cima da outra.

Como explica Viveiros de Castro: “o poema de André Vallias é isso — um totem. Um poema que diz o que somos, quem somos, nossos nomes, os nomes de nossos “antepassados” míticos, aqueles seres totêmicos que nos distinguem no desconcerto das nações. Uma lista sempre inacabada, uma seqüência infinda de nomes…”

CICLO DE PALESTRAS

O poema-instalação “TOTEM” será acompanhado por um ciclo de três palestras, uma em cada unidade que abrigará o projeto, mediadas por André Vallias: A primeira palestra será no dia 16/12 (quarta), no Sesc Nova Iguaçu. Na sequência, no dia 27/01 (quarta), no Sesc Madureira; e no dia 24/02 (quarta), no Sesc Niterói, sempre às 18h.

“Convidei Eduardo Viveiros de Castro e dois outros antropólogos que foram seus alunos, Oiara Bonilla e Orlando Calheiros, para falarem sobre suas vivências etnológicas e, principalmente, para discorrerem sobre essa dificuldade que o Brasil tem de aceitar sua herança indígena. Continuamos achando que a nação começou em 1500 e seguimos desprezando um acervo inestimável de conhecimentos milenares que poderão ser cruciais num mundo cada vez mais vitimado pelas catástrofes ambientais resultantes da nossa chamada “civilização”.

SERENATA TUPI
A sonoridade também é destaque do projeto A PALAVRA LÍQUIDA com a apresentação musical “Serenata Tupi”, do compositor e ambientalista Sérgio Vieira. No repertório, canções de mestres da MPB que têm como tema os índios, como “Cara de Índio”, de Djavan; “Um Índio”, de Caetano Veloso; e “Testamento”, de Milton Nascimento e Nelson Ângelo, entre outras.

O show surgiu através da convivência de Sérgio com os índios Parakanã (Tupi) ao longo de Cinco anos. Ao chegar à tribo com seu violão, os índios começaram a escrever letras e pediram que o artista as musicasse com ritmos dos “brancos”. A experiência resultou em uma fusão inédita da língua tupi com a MPB em músicas que também serão apresentadas no show.

O espetáculo estreia no dia 12/12 (sábado), no Sesc Nova Iguaçu; depois acontece no Sesc Madureira, no dia 29/01 (sábado); e no Sesc Niterói, no dia 4/03 (sábado).

Serviço:
“A Palavra Líquida”

Sesc Nova Iguaçu - Rua Dom Adriano Hipólito, 10. Moquetá. Tel.: 2797-3001

Exposição “Totem”

Visitação de 25/11 a 28/12

Terça a sábado das 9h às 20h. Domingos e feriados das 9h às 18h.

Entrada: Gratuita.

Classificação: Livre.

Show “Serenata Tupi”, com Sérgio Vieira

Dia 12/12, às 17h.

Entrada: Gratuita.

Classificação: Livre

Encontro com o antropólogo Orlando Calheiros e o poeta e artista plástico André Vallias sobre a questão indígena no Brasil

Dia 16/12, às 18h.

Entrada: Gratuita.

Classificação: Livre


Sesc Madureira - Rua Ewbank da Câmara, 90. Tel.: 3350-7744

Exposição “Totem”

Visitação de 12/01/2016 a 18/02/2016

Terça a sexta das 9h às 20h. Sábados, domingos e feriados das 9h às 17h30.

Entrada: Gratuita.

Classificação: Livre.

Encontro com a antropóloga Oiara Bonilla e o poeta e artista plástico André Vallias sobre a questão indígena no Brasil

Dia 27/01/2016, às 18h.

Entrada: Gratuita.

Classificação: Livre

Show “Serenata Tupi”, com Sérgio Vieira

Dia 29/01/2016, às 18h.

Entrada: Gratuita.

Classificação: Livre


Sesc Niterói - Rua Padre Anchieta, 56. São Domingos. Tel.: 2719-9119

Exposição “Totem”

Visitação de 17/02/2016 a 17/03/2016

Segunda a sábado das 8h às 21h.

Entrada: Gratuita.

Classificação: Livre.

Encontro com o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro e o poeta e artista plástico André Vallias sobre a questão indígena no Brasil

Dia 24/02/2016, às 18h.

Entrada: Gratuita.

Classificação: Livre

Show “Serenata Tupi”, com Sérgio Vieira

Dia 4/03//2016, às 18h.

Entrada: Gratuita.

Classificação: Livre

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Biografias:

TOTEM

Eduardo Viveiros de Castro – Considerado um dos mais importantes antropólogos da atualidade, é professor do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É criador e principal expoente de uma teoria que vem causando impacto na filosofia e nos mais diversos campos das ciências humanas: o perspectivismo ameríndio. É autor, entre outros, dos livros Metafísicas canibais e Há mundo por vir? – Ensaio sobre os medos e fins (com Deborah Danowski).

André Vallias – Poeta, designer gráfico e produtor de mídia interativa. Foi curador de diversas exposições de poesia digital, entre elas: Transfutur (Kassel, 1990) e p0es1e – digitale dichtkunst (Annaberg-Buchholz, 1992) e POIESIS – poema entre pixel e programa. Publica, regularmente, poemas e traduções em diversas revistas brasileiras e internacionais. É autor de HEINE, HEIN? – Poeta dos contrários, TOTEM e ORATORIO – Encantação pelo Rio.

Oiara Bonilla é antropóloga, ensina etnologia indígena no Departamento de Antropologia do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal Fluminense (ICHF-UFF). Trabalha com os Paumari do médio Rio Purus, no Amazonas, onde desenvolve pesquisa sobre rituais e transformações. Desde 2009, focou-se mais especificamente nas relações entre as cosmopolíticas indígenas e as políticas públicas, realizando, em 2013, uma pesquisa de campo de curta duração sobre as percepções e apropriações do Programa Bolsa Família entre os Guarani e Kaiowá do Mato Grosso do Sul. 

Orlando Calheiros é fotógrafo e doutor em antropologia social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Realizou sua pesquisa de campo entre os Aikewara, povo Tupi-Guarani do Sudeste do Pará, onde se debruçou sobre a produção imagética e as formas de resistência política desenvolvidas por esta população. Atualmente é professor visitante no departamento de Filosofia da PUC-Rio.



SERENATA TUPI

Sergio Vieira - Ambientalista, escritor e compositor com mais de 20 anos de carreira. Coordenou o projeto “Sustentabilidade”, realizado com o povo indígena Parakanã, da Amazônia. A música foi o principal recurso metodológico em um processo de educação indígena que livrou os respectivos índios da extinção. Nos últimos anos, realizou shows, palestras, exposições e oficinas sobre sustentabilidade. Prepara o vídeo-documentário “Awaeté Parakanã, o Povo de Verdade” com a participação de Ferreira Gullar, Fernando Brant, Dori Caymmi e Toninho Horta, entre outros.